terça-feira, 8 de abril de 2014

Seja Infantil, por favor!

Gabriel acabara de completar dois anos de idade quando ganhou de seus primos um presente diferente. O tal, tinha base de madeira e, encaixados nesta, arcos de ferro com diferentes tamanhos e formas, revestidos por borracha. Também, bolinhas coloridas feitas de plástico, que se moviam entre os arcos. Algo tipo isso. Segundo o próprio garotinho, uma “montanha russa esquisita”. 

Não havia começo, nem fim. O brincar era puro. Não existiam metas.
Compenetrado em sua tarefa, cujos detalhes só ele sabia, Gabriel movimentava cores para lá, cores para cá. Alegre na maior parte do tempo, não deixou de enfrentar pequenas dores, pois pelas curvas dos arcos nem sempre as bolinhas passavam com fluidez. 

Gabriel estava em Kairós - o tempo de Deus, da natureza, não mensurável. Cronos - o tempo do homem, perceptível no relógio - não o pressionava. Afinal, o que importava naquele momento era a jornada, não o destino. 

De repente, palmas! Muitas palmas! Para ele mesmo! 

Uma auto-celebração que contagiou todo o ambiente, atingindo até os observadores que de fato nem observavam. Risos. Sorrisos. Mais risos. Só risos. 

A brincadeira chegou ao fim? 

Não. Compenetrado em sua nova tarefa, cujos detalhes só ele sabia, Gabriel partiu para uma outra jornada.


Imagine...

um mundo igual ao do Gabriel naquele momento. Onde o presente é aproveitado minuciosamente - nas cores e nas dores; onde o tempo que realmente importa é o tempo que nos damos, não o que marcamos. Um tempo que respeite ritmos, vontades e necessidades.
Um mundo em que a celebração, mesmo “auto”, seja constante e contagiante. Um lugar onde as metas são definidas pela liberdade dos envolvidos na entrega da tarefa. Liberdade, com consciência. De impacto. De relevância. De bondade. 


“Tique - táqui”

Ouço algo ao meu redor
Isso importa?
Não, caso eu esteja me divertindo. 
Caso o contrário, algo está errado. 

A única pressão que devo sentir é a do meu coração
Sinto a essência do que sou no que faço? 
Sim, celebro. Muito.
Não, corro atrás. Muito. 

Não é porque tenho vida que estou vivo.
Viver é algo muito mais amplo do que existir. 
A vida deve ser viva.
Viva!


Nota: este texto é o primeiro de uma série que será reunida em um livro - a ser lançado ainda este ano. O objetivo é enriquecer nosso olhar para a palavra INFANTIL. 

Espero que gostem ;)