terça-feira, 27 de julho de 2010

Moscou acima de 30

Putz véi! Me senti o Super Mario, o Zelda, o Sonic, um caçador do tesouro e zás! Apenas um mapa na mão bastou para andar sozinho (e rir sozinho) nesses últimos dias.

Antes de maiores detalhes afirmo que voltarei à capital russa com minha família, indubitavelmente! Ô lugar bão!

Nos 5 dias que fiquei por aqui, apesar das diferenças e dificuldades na comunicação, em momento algum me senti em um país distante do meu. Talvez por ser apenas o início da minha viagem ou outro motivo, o que importa é que me senti bem. Feliz. Ponto para Moscou.

Logo que cheguei, o network global que a AIESEC promete aos seus membros foi comprovado (novamente diga-se de passagem – assim como foi em Londres).

Fui recepcionado por Kátia, trainee que ficou no Brasil por 1 ano e meio (aieseca desde 2005) e que atualmente trabalha na Embaixada Brasileira. Além de ter um lar durante minha visita, enturmar-me ficou mais fácil. Não esperava, mas, dois outros aiesecos russos que conheci em Kuala Lumpur ano passado (Congresso Internacional) moravam no mesmo flat que Kátia. Todos do flat trabalhavam durante o dia, porém faziam de tudo para estarem presentes e sair comigo após o expediente. Por isso, deixo aqui meu agradecimento a Ruslam, Pasha, Delya e Kátia.

Beleza então. E o que chamou a atenção nesses dias? Por tópicos...

Pontos Turísticos

A arquitetura da cidade é bem bela, uma mistura de antiguidade com modernidade. A maioria dos prédios é antiga e os detalhes minuciosos das construções chamam bastante a atenção. Listarei os principais pontos com fotos.

Praça Vermelha (onde acontecem os maiores eventos de Moscou)

Mausoléu de Lênin (o corpo está exposto lá – no photos)

Kremlin (complexo histórico – fortificado – semelhante a um castelo)

Catedral do Santo Basil (nem me pergunte quem é)

Catedral do Cristo Salvador (maravilhoso lá dentro, tudo folheado a ouro)

Comunicação

Vish. Acho que meu sentimento foi semelhante ao de um gringo no Brasil. Muito difícil encontrar alguém que fale inglês, até mesmo em locais “globais” como Mc Donalds e pontos turísticos. Além da língua, a escrita é totalmente ilegível. Complicado. Mas divertido demais. É estranho, mas eu olhava aqueles letreiros na rua e sorria por dentro. Desafio! Ahhh! E andar de metro sozinho então! Que aventura! Felizmente inventaram as cores e os números - ajudaram demais. Fora elas, usei meus dotes de montador de quebra-cabeça, desenhista e jogador de memória para identificar os símbolos e encontrar minhas estações e destinos.

Comida

Se me pedirem pra falar o nome de um prato típico eu ficarei devendo. No máximo, quem sabe, eu consiga desenhar o que “li”. O que sei que é bastante comum: sopas (quente ou fria atualmente) e chá, ambos diariamente. De resto o que mais afeta o paladar é o tempero. Peixes, frango, carne têm de monte. Comi umas coisas estranhas, mas nada aterrorizante.

Enfim, por ser uma grande cidade você não encontra dificuldade para encontrar comidas de todos os cantos do globo. Ah, escrever sobre paladar é estranho para mim. Passo.

Temperatura (mais alta dos últimos 70 anos – veja matéria)

Foi tenso. Acima de 30 todos os dias. Sem infra-estrutura adequada para suportar tamanho calor. Ventiladores a venda tornaram-se raridade. Cerveja e outras bebidas geladas, sonho. Arzinho frio ao entrar em lojas/metrô, jamais! O jeito foi recorrer às fontes no centro e relembrar bons momentos da infância, além dos lagos e rios espalhados por ai. Porém, nem tudo foi só alegria. Infelizmente, milhares de russos morreram vítimas de afogamento nos últimos meses (leia). E alguns dizem que o aquecimento global é bobeira. É, 2012...

Beleza russa

Concentrada no centro de Moscou. Ali sim você encontra pessoas bonitas, bem arrumadas. E o que chama a atenção na mulher russa é o rosto. Muito bonitinho, acompanhado de olhos claros, maravilha! Mas no interior da cidade ou em cidades vizinhas as várias visões deslumbrantes sumiram (na minha opinião). Portanto, meu veredicto final é: você encontra russas maravilhosas, sim! Assim como encontra brasileiras maravilhosas! No conjunto da obra: fico com minha pátria nesse quesito. Ponto para os homens do mundo.

Lazer

Circo e balada alternativa. No palco, nada muito diferente do Brasil. Já quanto a balada... fomos num “churrasco” no meio do nada (veja abaixo), onde encontramos mais uns 30 trainees de todos os cantos do mundo que estavam trabalhando num projeto da AIESEC. Muita diversão, futebol (dei show ao lado de meus amigos egípcios, inglês e alemão) e o churrasco limitou-se a frango na brasa! Mas são em encontros assim que você se sente um cidadão global.

E agora, Top Five Moscou – situações marcantes:

1) Sedento por líquido fiquei 30 segundos tentando abrir a geladeira de uma loja para pegar minha “Sukita” e pagar depois (como fazemos no Brasil nas lojas de conveniência). Forcei a porta até ouvir uns grunhidos (entenda isso como alguém me chamando a atenção em russo). Era a moça do balcão. Ela apontou para a calculadora: 40. Eu dei o dinheiro e com um controle remoto ela abriu o freezer. oO

2) Restaurante com comida típica da Rússia: Mumu. Ninguém falava inglês e o sistema era tipo o Subway, onde você escolhe os ingredientes de seu sanduíche em alta velocidade. No caso do Mumu eram diferentes porções. Defini meu critério: como queria coisas diferentes, escolheria os pratos mais feios e estranhos.

Começa o pedido: vou apontando para minhas escolhas, a mulher fala alguma coisa, eu falo Yes (fazendo o sinal com a cabeça, sem medo). Era comida que não acabava mais, tudo diferente. No fim, vi um omelete e pensei: “vou pegar caso o resto não caia bem”. Tudo pronto, passo no caixa. A atendente me dá a conta, aponta para um saquinho verde e em seguida pra minha salada. Em russo, deve ter perguntado: Você quer? Eu respondi que não, mas ela colocou na bandeja. Deixei quieto. Fui comer, feliz da vida. Olhei para o saquinho e vi uma plantinha, toda bonitinha. Como já sabia que não entenderia nada do que estava escrito, nem arrisquei. Tinha certeza que era o tempero da salada. Joguei o líquido com maestria nas verduras e dei a primeira garfada. Foram por volta de 3 minutos engasgado tossindo feito vô e chamando a atenção do lugar inteiro. Era álcool em gel, para higienizar minhas mãos. Peguei novamente o saquinho e li: “Sanittelle”. Perdi minha salada. Para completar, logo em seguida descobri que não era omelete. Estava ótimo.

3) Volta da fatídica balada alternativa citada acima. Eram quase 2 da manhã. Éramos 5. Todos bem. Menos Ruslam = bêbado. Entramos no elevador. Ruslam começa a fingir que é forte. Quando estávamos a um andar do nosso, gritando ele força a porta com as mãos, tentando abri-la. Não deu outra, a velha máquina parou. O calor era infernal. Passavam dos 30 naquela noite. Apertamos o botão de emergência e em russo meus amigos falaram com uma mulher. Pensei comigo: “Bom, o resgate está vindo”. Dez minutos depois, quando o ar já estava em falta, a mulher nos chama pelo interfone. Logo após a segunda conversa revelaram para mim que ela perguntou: “Ainda estão presos?”. A resposta foi positiva da nossa parte e ela disse: “Estou mandando o resgate agora, é regra esperar um pouco para evitar confusões. Em 15 minutos os técnicos estarão ai”. Pensem na minha cara de felicidade. Sobrevivi.

4) Viajando para uma cidade próxima a Moscou de trem. O sistema aqui é: você compra pro lugar que vai (óóó), mas como já vi em filmes, passa um guarda confirmando sua passagem. O engraçado foi: alguns russos ao perceberem a aproximação do guarda começaram a ir pro fundo do vagão, desesperados. Vale ressaltar que estávamos em um dos últimos vagões. Ficavam cada vez mais espremidos no fundo na medida em que o guarda ia chegando. Quando ele chegou: o trem parou, a porta abriu e os russos saíram correndo rumo ao primeiro vagão. Cena hilária. Aqui eles também tem o jeitinho brasileiro para se dar bem.

5) Essa vai ser difícil descrever, mas vamos lá. No mesmo restaurante, 2 dias depois. Desta vez ciente de que o tempero da salada era álcool em gel. Mesma técnica para escolha dos pratos: pedir os mais feios e diferentes. Tudo feito sem maiores problemas. Paguei a conta e fui comer no balcão. No final da refeição, ainda tinha um restinho de suco no copo, com alguns cubos de gelo. Não sei quanto a vocês, mas nessas situações eu gosto de pegar um cubo por vez e colocá-lo na boca até derreter (refrescante!). E deixo o último gole do suco para encerrar minha refeição. Sabe quando você quer só o gelo mas o suco vem primeiro? Odeio isso! Era o que estava acontecendo. Comecei a travar uma batalha: eu versus copo/suco/gelo. Vira um pouquinho o copo...quase (engoli umas gotinhas de suco)! Vira um pouco mais e mais rápido, uuuuuu, quase lá! Última tentativa: consegui! Não! Vieram dois cubos de gelo. Mal cabiam na minha boca e o pior que tinha suco no meio. A cena esdrúxula tinha começado. Eu parecia o Fofão “Mongol” tentando mexer na boca para encaixar os cubos. Foi ai que tentei uma manobra arriscada “contanto com minha experiência” e que envolvia abrir a boca para encontrar a posição correta dos cubos. Falhei. Babei suco. E quando olho pro lado, torcendo para que ninguém tivesse presenciado tal cena ridícula, vejo um russo com olhar de reprovação. Ele resmunga, pega sua bandeja e muda de lugar. Agora eu pergunto. Por que comigo? No mesmo lugar!

Bom, na Rússia essas foram algumas das histórias que tive. Boas experiências que sem dúvida ficarão na memória. Agora, é partir para a estação de trem. A viagem mais longa da minha vida (5 dias) começa em poucas horas.

Mongólia...ai vou eu! =p

Beijos e abraços.

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dia do parto e a missão.

Se você está por dentro dos acontecimentos que envolvem minha vida entendeu, logo de cara, o significado do “parto”. Este, indolor fisicamente, talvez dolorido na alma pela saudade que vai gerar, mas, sem dúvida, repleto de aprendizado e boas histórias.

São exatamente 10:22 do dia 21 de julho de 2010. Em aproximadamente 360 minutos embarcarei para Moscou antes de ir para Ulaanbaatar, Mongólia, onde ficarei 3 meses dando aulas de inglês para crianças. Promete ser o início de uma longa viagem, que talvez dure 1 ano.

Sentiu a presença de incerteza na última frase, certo? Certíssimo! É ai que mora a graça da aventura que se aproxima.

A incerteza dá margem para novas possibilidades e pode proporcionar conquistas antes inimagináveis. Isso é bom e raro. Por outro lado, a incerteza pode destruir nossos planos. Isso é ruim e comum.

Ela tem “grandes” poderes, inclusive o de nos deixar desesperados sem motivos. É quando se camufla de ansiedade e bombardeia nossa mente com pensamentos “e se?”. E se não temos uma defesa preparada para o ataque (já voltarei nesse ponto), ferra-se tudo – a incerteza nos engana e nossa tomada de decisão - no fundo - falha. Entenda “falhar” como deixar de fazer o que ama e o que te dá prazer para se dedicar ao que a sociedade valoriza. E é depois que falhamos que percebemos (OU NÃO) qual é o principal alimento da incerteza: a racionalidade.

Esta inibe nossa intuição, nos faz valorizar mais padrões do que sentimentos e vontades autênticas, enaltece o material e apaga o espiritual, alimenta sonhos com o ego, nos faz viver pró-status e transforma o tempo no nosso pior inimigo. Através da racionalidade, o ser humano teve a capacidade de criar ricos empobrecidos e os tornar espelho, exemplos de vida a serem seguidos. Isso é péssimo.

Por que estou falando isso? Pois para mim, Gustavo, essa viagem tem um propósito maior do que uma simples travessia de fronteiras. É o momento que tenho para aproveitar o lado bom da ansiedade que estará presente comigo o tempo todo, naturalmente. Será a oportunidade de sair do meu mundo, imergir em outro, reafirmar ou redescobrir meus valores e, principalmente, minha missão de vida. Qual minha utilidade para a Terra, é o que quero descobrir. Leia “missão de vida” como a defesa que necessitamos para combater a ansiedade e alimentá-la com aquilo que transporta nossa real essência, a intuição.

Um estudioso da origem do Planeta Terra uma vez afirmou que quanto mais se aprofundava nos segredos e peculiaridades da vida/natureza, mais tinha certeza de que Algo Maior/Superior sempre soube que os seres humanos chegariam um dia. Eu também tenho essa certeza. Minha intuição que disse. Eu não ganhei uma vida simplesmente por ganhar. Isso não seria justo. Estamos aqui por algum propósito positivo. Pode ser que cada um tenha o seu e é até melhor que seja assim, mas no fim tudo se torna único, verdadeiro e cheio de luz se movemos nossa vida com Amor. Precisamos disso.

Mas uma viagem não basta. Só descobriremos nossa missão se nosso ciclo essencial estiver bem consolidado sempre. O que é o ciclo essencial? São as pessoas que estão a nossa volta, que despertam nossas emoções, que quebram nossos paradigmas, que nos ensinam. Aquelas que tornarão nossa missão realidade.

Família e amigos.

Sem eles, dificilmente suportaríamos as pressões que parecem existir no dia a dia. Com eles, descobri que amor de pai e mãe ganha sua forma mais esbelta no apoio e na confiança; que a tranquilidade dos amigos é um sinal de que tudo dará certo; que o olhar de um irmão nos dá a certeza de que algo será diferente (sentirei saudades Rafinha); que o carinho dos avós e das tias é algo insubstituível. Por ter eles, sei que problemas não existem, apenas desafios; derrota é um nome feio que deram para o aprendizado; e as conquistas são fruto do que plantamos.

Busque sempre sua missão e valorize cada segundo ao lado de seus entes queridos. Isso nos fortifica e nos dá um sentido.

Para tal, dê ouvidos a sua intuição. Há tempos que ela tenta se comunicar contigo.

Bom, pode ter sido um texto sem muito nexo, talvez de difícil compreensão (até para quem escreveu). Mas é um pouco do que se passa na mente de um jovem viajante, minutos antes de partir. Uma mistura de gratidão com reflexão.

Este será o último texto reflexivo. As reflexões aparecerão escritas em outro formato – não no blog – em um futuro próximo. Aqui, tentarei passar as experiências marcantes da viagem, com o intuito de incentivá-los a buscarem o novo, todo o dia.

Para finalizar, responderei abaixo o scrap que meu priminho, Pietro de 7 anos - que está no momento mais rico do aprendizado (ler e escrever) – deixou no meu Orkut quando brinquei se ele queria ir comigo.

eu ia gostar de viajar com vocé mas tomara que seja legal e divertido mas eu tenho que ficar com os meus pais e meus amigos entao se divirta na viagem abraso seu primo pietro. jau gustavo bonafé”

Pi, eu estarei com você, com minha família e meus amigos também. Pois vocês são minha essência...


Beijos e abraços. Cuidem-se.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Simples navegar

30 de junho de 2010.

São 9:36. Meu ônibus acaba de sair de São Paulo. Destino: Campinas, onde tudo começou. Há poucos minutos, na frente da casa número 327 - localizada na Rua Dona Brígida, Vila Mariana – estavam Pablo, Laissa, Thaís, Rodrigo, Anna e Rebeca para se despedirem de mim. Juntam-se a eles, Camilla, Romildo, Verônica, Giulia, Tiago e Larissa. Nós: formamos o MC Sailors (a diretoria nacional da AIESEC 2009/2010). Eles: proporcionaram-me a experiência mais marcante que poderia ter em 21 anos de existência. Foram exatos 394 dias ao lado deles, morando na mesma casa onde trabalhávamos. Foram exatos 1032 dias vivendo plenamente AIESEC.

Esperei o táxi se afastar da casa para desabar. De emoção. Não queria passar ao vivo minha tristeza ao deixá-los, ao partir sem saber ao certo quando verei cada um, quando verei todos juntos novamente. Tudo isso porque eu amei demais eles e o amor verdadeiro é eterno. Aprender, superar, entender, empreender, cooperar, rir, lutar e realizar. Foi o que fiz. Foi o que fizemos - sempre juntos. Estar ao lado de jovens que adiaram projetos pessoais, adiaram a entrada no mercado, trancaram a faculdade para se dedicarem unicamente a uma causa é simplesmente enriquecedor e apaixonante.

Navegadores corajosos. Vitoriosos.

Na memória ficam os momentos marcantes, de diversão, de conquista, de superação, de construção e de irmandade. Fomos uma família, sempre seremos e sinto orgulho em dizer isso.

Na vida ficam enraizados os ensinamentos que ganhei com o MC Sailors, com as pessoas responsáveis por esse time espetacular - que cravou seu nome na história da AIESEC no Brasil.

E o coração passa a guiar minha vida de uma forma nova e prazerosa. Com eles, aprendi que existir e viver é na verdade “inter-existir e con-viver*”.

------- Os chairs -------

Um simples post, na volta de meu blog é ínfimo perto da gratidão e carinho que sinto por vocês.

Mas fica meu agradecimento através da escrita, que junto com a leitura, tem alimentado minha alma diariamente.

Obrigado MC Sailors.

Por tudo.

Para finalizar, transcrevo aqui um pedido de Pablito, escrito de forma pura e gentil e que passa exatamente o que nós buscamos:

“Pai, ajude-me e ajude meus amigos a encontrar nossos caminhos, e que estes sejam os melhores para nós e para a humanidade. Obrigado”

Beijos e abraços apertados,
Bona.

* Leonardo Boff - O despertar da Águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da realidade.