quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Mongólia é realidade. É vida!

Obs.: lembra que disse que não falaria mais sobre reflexão aqui? Era mentirinha. 

Natureza e Homem. Mãe e filho. Criadora e criado. Dona da Terra e habitante da Terra.


Quão mágico é o poder do uníssono formado pela fauna e pela flora.

Quão poderosa é a sensação de liberdade quando nos encontramos com Ela.

O ar puro penetra nosso corpo e atinge a alma. Os singelos sons penetram nosso corpo e atingem o coração.

Ela quer falar. Quer avisar. Presenteia-nos com momentos magníficos não só porque Ela é a bondade na forma pura. Mas nos presenteia porque precisa de nós para sobreviver (será?).

Ela é humilde. Ela olha pro lado, enxerga-nos. Nós olhamos somente pro centro, pro nosso ego. Alimentamos nosso status, enquanto Ela nos alimenta.

E num futuro breve, Ela se recriará. Nós, já estaremos destruídos.

Todos sabemos disso. Mas, sabe-se lá como e por que, simplesmente continuamos com nossa vida, nossas costumes, nossas restrições, nossas compras. Nossas angústias fúteis. “Mundo de bonequinhas.” Tudo perfeitinho. Tudo no prato. Nada falta. Agora! Espere mais um pouco. Ou não! É o livre-arbítrio. Quem tem, pode. Pode mudar! 

Conectar-me com a natureza na Mongólia foi algo diferente. Intrigante e revigorante ao mesmo tempo. Não só por ter sido a primeira vez que andei a cavalo, excluindo charrete. Galopei até! Mas também porque ali, ficou evidente a imensidão das montanhas, o infinito do azul, a dança das plantas e o vento. E, alguns quilômetros depois, a civilização. Nós, seres humanos, achamo-nos inteligentes. Racionais. Ô cegueira! Porque a real é: extraímos nossa matéria da perfeição e o que conseguimos construir? Desigualdade. Imperfeição. É a única coisa que vejo. Você vê algo diferente? Por favor, diga para mim. Estou tentando encontrar a tal inteligência humana em tudo que observo. Porém, a ignorância predomina na maior parte do tempo.

Fica a dica.

Ah! A Mongólia não é o fim do mundo (como já ouvi, mesmo que de brincadeira). Aqui tem vida. Aqui tem irmãos. Pessoas batalhadoras. Pessoas corruptas. Heróis nacionais. Rivalidade com outros países. Desafios a serem enfrentados. Bons exemplos de cultura. Tem pessoas religiosas. Pessoas desacreditadas. Tem pobreza. Tem riqueza. Ó, tem balada boa! Tem internet. Água quente! Pergunto-te: alguma coisa muito diferente do nosso país?

O que tem de diferente é detalhe, é sutil e prometo descrever tudo aqui.

Existem mais semelhanças do que podemos imaginar. Sabe o motivo? Todos os seres estão conectados. Eu escrevi: “TODOS”!

Deixarei as fotos falarem mais (com algumas curiosidades e um causo engraçado/trágico)

Uma ótima semana. 

Paisagens como essa são típicas da Mongólia. Olha o azul!
O nome dessa pequena casa é Ger (lê-se guir)
Ela pode ser "empacotada" com facilidade. O que dá mobilidade as famílias para mudarem de região quando quiserem. Isso é comum. Obs: Olha o menininho cuti-cuti! 
A logística não ajuda na foto. Mas esse é um quarto com 4 camas e uma lareira ao centro. Cada Ger é um cômodo, geralmente uma família tem 2 (quarto e cozinha). O banheiro sobra pra natureza. 
Cavalos esperando os cavaleiros.
Eles estão por toda a parte. Você pode comprar um por R$ 400,00. 
Para o cavalo andar você deve: bater o pé na lateral dele e gritar "Tchuuu" com vontade. 
Para você parar o cavalo deve dizer "Zogs", logicamente puxando a "cordinha" junto. 
No começo não nos entendemos, mas depois foi sintonia pura. Valeu parceira!
Curta o mongol na prática:


Aproveitando a parte dos cavalos, contarei um causo:

Na Mongólia, uma tradição bem forte é jamais rejeitar um alimento/bebida quando alguém te oferecer. Eis que chega em casa meu amigo Geede (em breve um post sobre ele) com uma garrafa de....Leite de Cavalo! Segundo ele, "a cerveja da Mongólia". O motivo: durante o processo de retirada do "leite", o líquido ganha um teor alcoólico (sei lá como explicar). E é que nem antisséptico bucal. Se você tomar leite de cavalo e soprar no bafômetro o nível será maior que cerveja. Enfim, ele trouxe e fez questão que eu tomasse. Um copo cheio. Primeiro gole e senti o "gosto do cheiro" do esterco. O pior foi que fiquei curioso em saber como se tirava leite deste animal. Arrependimento em descobrir (veja o vídeo). O pior 2 foi que prometi a mim mesmo que iria até o fim em tudo novo que experimentasse durante a viagem. O pior 3 foi que após terminar o copo cheio, Geede chegou com outro. Lembra a tradição? Desculpa, mas foi foda! 


Quero realmente acreditar que era leite!

No fim, tudo lindo...imenso! 
.....
A volta pra cidade não me deixou muito feliz. Acho que eu seria um bom Mogli ou primata.
A natureza é meu lar. Entende?



Só precisaria de um cavalo...

Beijos e abraços.

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Twitter: @gustavobonafe

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Descobrindo Ulaanbaatar

Ei de concordar com meu amigo Tiago Maciel: ter um blog dá trabalho. Ainda mais quando se está no meio de um lugar desconhecido, onde os olhos quase não piscam. Atentos, vão de um lado para o outro numa velocidade incrível. Tudo é novo. Tudo é diferente. Letras, sons, carros, pessoas, prédios, casas, ruas, músicas, costumes. Mas, sei lá como, a sintonia é perfeita. E esse tudo se torna espetacular. Por isso que nós, viajantes, mantemos nossos blogs na ativa. Para incentivar. Dividir. Talvez cooperar com o seu sonho, enquanto vivemos o nosso. Para nós, é um prazer imenso.

Novamente, agradeço as visitas e espero de coração estar proporcionando a vocês – no mínimo – alguns momentos de tranquilidade/diversão durante a leitura. 

Como combinado, hoje irei escrever sobre Ulaanbaatar (UB – iubee), a capital da Mongólia.

País pobre. Desigualdade evidente. É normal achar modernos complexos industriais/residenciais no meio de casas mais simples. E é normal olhar nos arredores da cidade e ver montanhas maravilhosas com um céu azul de dar inveja a muitos lugares.

Após quase duas semanas por aqui, meu sentimento é de realização. Felicidade. Paz interior. Acho que é normal pro início de intercâmbio. Enfim... Por tópico pra facilitar a vida de quem escreve e de quem lê.

Pontos Turísticos

- Sukhbaatar Square (Parlamento da Mongólia)

Chinggis Khaan ao centro
- Zaisan Hill (Monumento em homenagem a união militar de Russos e Mongóis)


- Buddha Monument (Ah, não preciso falar que a maioria aqui é budista né?)


- Chinggis Khaan Statue (eu não sei mais como escreve, tem várias maneiras, mas ele é realmente querido - o monumento fica localizado a 54 km de UB)


- Gandantegchinleng Monastery (coisa bonita de se ver, infelizmente – ou felizmente – não se pode gravar ou tirar fotos das rezas budistas, mas é magnífico ver os monges juntos citando em bom tom os mantras de Buda, coisa de filme)



Essas latas arredondadas (de tamanhos diferentes) ficam em torno de todos os templos
É tradição dar a volta nas construções e girá-las (todas) para receber boas energias.
Enquanto giramos devemos dizer: Um Maani Badmi Hum (algo como "preciso de renovação")
Dentro do templo: estátua de Buddha.
Obs.: não podia tirar foto, meus alunos me enganaram. Nada aconteceu
Pessoas

Nos primeiros dias confesso que me sentia mal ao andar nas ruas. Quase todos olhavam para mim (do tipo virando a cabeça até eu me distanciar) e eu não enxergava um sorriso. Olhares desconfiados e alguns até ameaçadores. Tenso. Mas é fato. Ouvi várias histórias de alguns dos milhares de gringos que já estão aqui há algum tempo. Boa parte da população não é adepta da presença de estrangeiros aqui. Afinal, o país é pobre e quando esboça um crescimento “vem um ser de outro lugar pra tirar meu emprego”. Por esse motivo, o clã de estrangeiros aqui é forte. Sempre juntos, raramente se vê um mongol no meio. Pubs, baladas, restaurantes, tudo um pouco segregado nesse sentido. Logicamente, não se pode, nem se deve generalizar. Várias vezes fui cumprimentado simpaticamente na rua por moradores de UB, tenho amigos (incluso alunos) que são daqui e faço questão disso. Pessoas receptivas, atenciosas e carismáticas.

Óbvio que saiu com gringos, mas se tiver que escolher (senão houver a opção ambos) fico com os “nativos” (a essência de um lugar só é real quando a essência da companhia foi formada ali).

Só para se ter uma noção da diversidade de estrangeiros aqui, encontrei até agora gente dos seguintes países: Canadá, EUA, Escócia, República Tcheca, Alemanha, França, Itália, Rússia, Jamaica, Gana, Luxemburgo, República Dominicana, Polônia, China, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Coréia do Sul, Holanda, Inglaterra e cansei.

Segurança

Pensa num cara 100% assustado ao andar nas ruas de noite? Multiplique o assustado por 10. Pronto, esse era eu nos primeiros dias aqui. A iluminação pública aqui é quase nula. Exceto nas vias principais. Só para você ter noção, olha minha visão na volta para casa (sem flash):
Fora isso, não é difícil achar bêbados nas ruas ou crianças “perigosas”. Fato 1. Primeira noite em UB, ao voltar para casa, 5 ou 6 crianças (até 10 anos no máximo) me cercaram e começaram a colocar a mão nos meus bolsos e falar: money, money, money. Espertinhas né? Não mais que eu. Obrigado São Paulo pelas lições de vida. Tudo guardadinho na pochete escondida. Num 1º momento as afastei com carinho (eram crianças), elas voltaram com um pouco mais de esforço, ai não teve como: empurrei com força e gritei alguns palavrões em português. Não sei mongol, as crianças só sabiam “money”  em inglês, então melhor xingar com gosto (\o/). Fato 2. Terceiro dia em UB, indo encontrar alguns amigos, um pedacinho de gente (5 anos no máximo) gruda na minha perna. Mãos e pés agarrados na minha canela. Balança daqui, balança dali e o moleque estava pior que aquelas bonequinhas que grudam na roupa. Uma mulher local (pra não falar mongol) me ajudou falando algo pra pequena criatura. Pra minha surpresa fiquei livre. Pra minha segunda surpresa o menino pegou uma pedra e jogou na mulher (que se defendeu com um violão). Pra minha terceira surpresa, a mãe estava vendo tudo e xingou (ao menos pareceu) a mulher que me ajudou. Acontece! Infelizmente. Bom, resumo da obra, tudo isso abriu meus olhos.

Trânsito e ruas

Caos. Inexplicável. O trânsito aqui é complicado de entender, pouquíssima sinalização, diversos cruzamentos confusos, motoristas agressivos, usar o retrovisor é raro e o sinal de pedestre não tem nexo. Está verde! Do inferno, surge um carro que quase te acerta. E buzinar é água. Não param um minuto. Ou seja, não é incomum ver um guardinha no meio da rua tentando colocar ordem na casa.
Já as ruas, a maioria é mal asfaltada, muitos buracos, muitos. As calçadas são basicamente pedra + terra (exceto avenidas principais) e em dias de chuva fica um pouco complicado não chegar em casa com lama na calça.
Comida

Em “cidade grande” (aprox. 1 milhão de habitantes) encontra-se de tudo, menos MC Donalds e grandes franquias. Nada disso por aqui. Comida asiática tem espalhada por todo canto e o preço acaba sendo baixo nos restaurantes. Tem até um restaurante brasileiro (Bonito), mas ainda não pude ir. A comida mongol é levemente apimentada, muitos legumes, arroz e carne, nada exótica (até agora) e muito saborosa. Um dos pratos mais típicos daqui é o Khuushuur. O modo de preparo estava escrito no cardápio de um restaurante fino que fui: The meat, either beef or mutton, is ground up and mixed with onion (or garlic) salt and other spices. The cook rolls the dough into circles, then places the meat inside the dough and folds the dough in half, creating a flat half-circular pocket. The cook then closes the pockets by pressing the edges together. Coisa xique, não? 3 pedaços + salada. Eu não acreditava no que estava vendo. Não era possível. Primeira mordida: WADAFÃK! Gorduroso, como na feira. Era pastel de carne. Puramente isso. O pior foi pagar USD 7 por três. Mas tá valendo. 

Quanto preciso para sobreviver em UB?

Se você quiser mandar um SMS, vai gastar menos do que R$ 0,03. Comprar um celular? Gastei R$ 34,00 num básico da Nokia. Comprar um cavalo? No máximo gastará R$ 400,00 e eu não estou brincando. Até já moldei uns planos na mente aqui (aventura!). No geral, comida e bebida saudável custam uns 40% a menos que no Brasil. Agora, bebida alcoólica (vodka especialmente), ah querido (a) leitor (a), é barato. Uma das melhores vodkas nacionais (Chinggis Khaan) sai pela bagatela de R$ 8,00 a garrafa. Por isso é fácil encontrar gente com passos tortos nas ruas. Pessoal curte virar o caneco.

Um dólar equivale a 1.340 Tugriks. Imagina a confusão. Um monte de dinheiro, notas de diferentes valores e pior, tamanho. Não dá pra fazer o rolinho perfeito. Para se ter idéia tem notas de: 10, 20, 50, 100, 500, 1.000, 5.000, 10.000 e 20.000.
Notas de 100 e 500. Na primeira um outro herói da Mongólia (Sukhbaatar).
Na segunda, adivinha? Chenggis Khaan
Lazer

Até então, fui em algumas festas “privadas” de estrangeiros, um festival de rock, cinema, uma festa histórica e acampar. A festa histórica e o acampamento eu deixarei para futuros posts. Mas adianto o resultado da balada: dança no palco e aparição na mídia nacional (da Mongólia). Fui entrevistado, ao vivo. Em breve, em breve... =p (espero achar a matéria).
Focarei aqui no festival de rock que fui. Ooo música boa. Sério! Curti demais. Fora que o local era sensacional, perto das montanhas. Pessoas bonitas e um futebol rolando solto nos gramados. Diversão!
Obs.: Nesse evento, também apareci na TV, estou atrás do vídeo. Ficam ai algumas fotos.

Finish galera. O começo, no compito geral, não foi tão fácil quanto achei que seria. Existem pontos negativos aqui. Como qualquer outro país. Desafios pela frente. E outra, se eu quisesse moleza ficava em casa, deitado no meu sofazinho assistindo Telecine. A graça de viajar é essa: conhecer a realidade (e não me refiro à realidade de um país, mas de pessoas e condições de vida). Aqui tenho uma pequena amostra, mas essa com certeza que se replica para outros cantos do mundo. Vidas precárias, às vezes desumanas. Por outro lado, o entorno desse cenário te reserva visões incríveis, bonitas, marcantes.

Salve a natureza, porque ela, no mínimo, alivia nossas angústias e encaixa o esplêndido no que destruímos. 

Beijos e abraços. Até a próxima.

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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Irmuun Mongol - lar e trabalho

Obrigado pelas visitas no último post. Bem vindos ao novo.

Ahhhh, a Mongólia. Nada se compara a esse país. Calma! Segura o coração. Mesmo completando uma semana na terra de Gengis Khan, não irei escrever sobre ela no post de hoje. Acredito que uma semana é tempo insuficiente para conseguir retratar com critério tudo que tenho visto e ouvisto (brincadeirinha). Podem crer: é muita coisa nova.

Falarei do trabalho e de casa, que por coincidência são no mesmo local. \o/

Vim para Ulaanbaatar (GMT + 8, ou seja, diferença de 11 horas para o Brasil) para trabalhar durante 3 meses na ONG Irmuun Mongol (Obs.: aproveite a primeira palavra “mongol” neste blog para preparar todas suas piadinhas).

O que fazemos aqui?

A Mongólia “abriu suas portas ao mundo” (bem devagarzinho e desorganizadinhamente), logo após a queda da União Soviética no início da década de 90. Desde então, o país começou a encarar o inglês como segunda língua e aos poucos isso vai se intensificando. Lembrando que aqui se fala mongol (sua chance de fazer a piadinha sem graça). Entonces, o objetivo da Irmuun é ajudar os jovens (carentes ou não) a falar o inglês. Tal informação expõe minha função aqui: lecionar! Ô chiqueza hein minha gente? Sou professor.

A priori, achei que daria aulas para meninos e meninas entre 9 e 12 anos. Engano meu. Meus alunos vão de 9 a 25 anos. Bem diverso e dinâmico.

A estrutura aqui é simples, somos no total 3 professores (incluso a dona) e o número de alunos chega no máximo a 15. Agosto é mês de férias e a maioria dos estudantes volta para suas casas, nos arredores da capital. Ou seja, estamos nos cursos temporários. Tudo está bem tranquilo. Dou aula na parte da manhã e alguns dias, no final da tarde. Nas horas vagas, dou uma ajuda para a AIESEC Mongólia, pois acabaram de se juntar a rede internacional. =]

Algumas fotos da escola. Esqueci de tirar com os alunos. Derfs. Perdão! Mas tem tempo. Os pequenininhos, de olhinho puxado, carinha redonda...cuti-cuti.

É meu dever comentar sobre a chefa (Chimeg: Lê-se algo como Chimidjégui), Nara (outra professora) e os alunos. No primeiro dia em Ulaanbaatar (domingo), Chimeg fez questão de me encontrar para apresentar o apartamento-escola, fazer compras (pagando tudo) e explicar como funcionariam as aulas. Logo na segunda-feira, ela preparou meu almoço (como tem feito todos os dias) e ficamos cerca de uma hora conversando. História da ONG, dificuldades financeiras e estruturais, motivação dela continuar com o trabalho, valores que ela segue, família e por ai vai. Ao mesmo tempo em que a escutava atenciosamente, lembrava que eu estava do outro lado do mundo graças aos meus pais, família e amigos, que confiaram nas minhas decisões e formaram a base de minha personalidade. Estou aqui por eles. Sou eles. Ai já viu né? Quem me conhece sabe que tive que conter o líquido que teimava em sair dos meus olhos - tamanha era minha felicidade de ter caído num local abençoado, que me deixasse tranquilo e feliz. Pessoas de bom coração e boa índole.

E isso também se confirmou depois, com o carinho e o interesse dos meus alunos pelo Brasil e com o suporte de Nara me ajudando na comunicação. Afinal, eles falam mongol e estão aprendendo o inglês. Imagine a dificuldade para me entender às vezes. Nada que vários anos de mímica, fotos e encenações não consigam facilitar. =p

Algumas coisas me chamaram a atenção neste pouco tempo ao lado dos jovens. Primeiro no geral todos têm muita vergonha de falar inglês, um pouco de medo e insegurança – algo normal, nada relacionado ao país em si. Eu era um túmulo na aula de inglês. Mas se você tocar no assunto futebol (Ronaldo, Ronaldinho, Kaká) ou hip-hop (Eminem, 50 Cent) ao menos com os meninos a história é outra. Aos trancos e barrancos eles se esforçam para se comunicar e darem a opinião. O melhor foi o comentário de Anaand (9 anos): “Maradona is bad. He did goals and said: I’m nice, I’m nice" ao mesmo tempo que fazia mímica para caracterizar a falta de humildade do “crack” argentino. Aquilo para mim foi a glória! Talvez a afirmação tenha sido fruto de minhas aulas:

Segundo que a humildade das pessoas aqui é coisa linda. Oyuuna, 25 anos, quer ir para os Estados Unidos estudar. Um dia fiquei ajudando ela a responder algumas possíveis perguntas que a Embaixada poderia fazer na hora de tirar o visto - “Por que você quer ir para os Estados Unidos e não para outro país?” – resposta: “Porque meu grande sonho é ver a Estátua da Liberdade”. A simplicidade mexeu comigo e me dei conta que realmente estava num lugar pouco explorado, com poucos “exploradores” do mundo, se é que me entende. Novamente agradeci por tudo o que estou vivenciando.

Fora a delicadeza e atenção dos alunos comigo ao me levarem para passear, explicaram tudo direitinho e me mostraram o maior monastério budista do país. Coisa de filme, que fica pro próximo post. Hohohoho

E o apartamento? Filé! Somente para mim! Experiência boa.

Minha cama é um sofá, mas tenho tido boas noites de sono ali. A cozinha é bem equipada, coisa fina. Minha sala é a mesma que usamos para dar aula – cheia de brinquedos que me fazem lembrar a infância. Tem um até parecido com um do Gugu eu acho (vide abaixo).

Tudo perfeito. Não! Qual a graça de tudo certinho? Nenhuma. Lembra do meu problema com banho no trem né? Sonho meu imaginar bons e constantes banhos quentinhos na Mongólia. O chuveiro aqui tem dois probleminhas: (1) a “boca” dele está quebrada – a água não sai com perfeição pelos pequenos orifícios que estamos acostumados, é um jato só. Como eu posso explicar....hummm....um “mijo” gigante! Ok, fui infeliz! Mas deu para imaginar como é, certo?; (2) a água é gelada (e ficará assim até dia 16). Eu disse gelada. Não fria. Gelada é pior. Então imagine você, um jato gelado caracterizou meus primeiros banhos. Cada banho demorou em torno de 2 horas: 1h51 criando coragem para entrar, 6 minutos de intervalos e 3 de tremedeira embaixo da água. Foram divertidos no final das contas. Agora, esquento a água, coloco na bacia e aos poucos, com minha xícara fico limpinho. A la novela das 6.

Fora isso, tem as moscas. Malditas moscas! E o pior é que são audaciosas. Elas miram na orelha para incomodar. São comuns em muitos lugares (sem ar condicionado). Em alguns momentos paro tudo que estou fazendo e com meus cadernos de inglês vou para a chacina. Nunca deu certo infelizmente. Faz parte.

Bom, começar com o pé direito (trabalho e acomodação bons) é mais do que perfeito. Ter essa base para conhecer um país em desenvolvimento será fundamental para meu proveito por aqui. Adianto que o “lado de fora” não é tão fácil assim e ao mesmo tempo possui belezas raras. É disso que trataremos daqui para frente. Contrastes.

Obs. 1: morar sozinho te força a fazer coisas que nunca fez. Tipo cozinhar. Aproveitei a oportunidade e a falta de prática para lançar a série: O Cozinheiro Mongol – a la carte com Gustavo Bonafé. Aceito sugestões de receita! Ajudem! O primeiro vídeo já está pronto:



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Obs. 2: vale muito a pena visitar os blogs de outros viajantes espalhados pelo mundo. Nos meus favoritos (menu direito do blog) alguns de meus amigos têm contado histórias incríveis!

Fica combinado então, próximo post, desbravando Ulaanbaatar, a capital da Mongólia.

Se cuidem.

Beijos e abraços, bom final de semana!